O cometa interestelar 3I/ATLAS, descoberto em 2024, chamou a atenção da comunidade científica por ser apenas o terceiro objeto interestelar confirmado a atravessar o Sistema Solar, após ‘Oumuamua (1I) e Borisov (2I). Desde então, surgiram especulações públicas sobre um possível risco de impacto com a Terra. No entanto, todas as agências espaciais envolvidas descartam qualquer ameaça, com base em medições orbitais precisas.
Distância de aproximação e trajetória
De acordo com a NASA e a ESA, o 3I/ATLAS seguirá uma trajetória hiperbólica, típica de objetos que não pertencem ao Sistema Solar. Isso significa que ele apenas passa pelo entorno solar e retorna ao espaço interestelar, sem permanecer gravitacionalmente ligado ao Sol (NASA, 2025).
Os cálculos orbitais publicados pela NASA/JPL Solar System Dynamics indicam que a menor aproximação entre o cometa e a Terra será de aproximadamente 1,8 unidades astronômicas, o equivalente a cerca de 270 milhões de quilômetros. Além disso, no momento do periélio e da maior aproximação relativa à Terra, o objeto estará do outro lado do Sol, impossibilitando qualquer colisão.
A Agência Espacial Europeia (ESA) também divulgou uma análise confirmando que não há cruzamento entre a órbita terrestre e a trajetória do cometa, reforçando que não existe risco de impacto presente ou futuro com base nos dados disponíveis.
Dimensões e composição do cometa
O núcleo do 3I/ATLAS não pode ser observado diretamente em alta resolução, mas observações feitas com o Hubble Space Telescope (HST) estimam que seu diâmetro está entre 440 metros e 5,6 quilômetros. A variação ocorre porque o brilho observado depende tanto do tamanho quanto das propriedades da superfície do cometa (Hubble/STScI, 2025).
A composição da coma do cometa foi analisada pelo Telescópio Espacial James Webb (JWST). Os espectrômetros do Webb detectaram que a coma é dominada por dióxido de carbono (CO₂), com proporção muito maior de CO₂ em relação a água do que a encontrada em cometas do Sistema Solar. Essa característica sugere que o objeto se formou em um ambiente mais frio e possivelmente mais distante da estrela-mãe do que os cometas comuns de nossa vizinhança (JWST/NIRSpec, 2025).
Pesquisadores também identificaram possíveis acelerações não gravitacionais, ou seja, pequenas variações na velocidade que não podem ser explicadas apenas pela gravidade. Em cometas, isso costuma estar relacionado à ejeção de gás causada pelo aquecimento solar. No caso do 3I/ATLAS, acredita-se que jatos de CO₂ sejam responsáveis por tais alterações.
Impacto hipotético: o que ocorreria?
Embora não haja qualquer risco real de colisão, cientistas utilizam modelos numéricos para estimar cenários hipotéticos de impacto. Um cometa com entre 0,4 km e 5,6 km, viajando a velocidades superiores a 60 km/s, liberaria uma quantidade extrema de energia ao atingir a Terra. Modelos de impacto planetário sugerem que eventos dessa escala podem gerar:
- ondas de choque globais;
- tsunamis de grande porte, se a colisão ocorrer no oceano;
- incêndios regionais ou continentais;
- ejeção de poeira para a atmosfera, reduzindo a luz solar e provocando um “inverno de impacto”.
Essas estimativas se baseiam em simulações de corpos de tamanho semelhante, como as conduzidas pelo Centro de Estudos de Objetos Próximos da Terra (CNEOS/NASA) e por pesquisadores independentes da área de impactos planetários. Contudo, esses cenários permanecem apenas como exercício teórico, pois o 3I/ATLAS não está em rota de colisão.
Consenso científico
Instituições como NASA, ESA, STScI, Observatório Nacional do Brasil e vários observatórios universitários reforçam que:
- a trajetória do 3I/ATLAS é bem conhecida;
- não há risco de impacto com a Terra;
- o objeto deixará o Sistema Solar após sua passagem pelo periélio.
O interesse científico permanece alto não por ameaça, mas porque o 3I/ATLAS oferece uma oportunidade rara de estudar um corpo formado em outro sistema estelar, ajudando pesquisadores a comparar processos de formação planetária em diferentes regiões da galáxia.





















