Analistas recomendam a minimização de novos investimentos em gás e salto para renováveis e baterias.
A troca do carvão para a energia renovável pode ser feita “com troco”, indica um novo estudo publicado no Reino Unido nesta terça-feira (10). A pesquisa constatou que o preço do carbono necessário para incentivar a mudança de carvão para energia renovável e armazenamento de baterias é em média de -$62/tC02 em 2022, comparado a $235/tCO2 da mudança de carvão para gás atualmente.
A análise foi conduzida pela organização TransitionZero e também concluiu que o custo da energia renovável diminuiu 99% desde 2010, o que significa que o gás não é mais uma ferramenta viável de transição energética.
Historicamente, o gás foi considerado uma ferramenta de transição para alternativas de menor intensidade de carbono do que o carvão em uma estratégia mais ampla de descarbonização da economia. Essa abordagem não leva em conta a urgência da transformação necessária na geração de eletricidade para o cumprimento do Acordo de Paris. Segundo o cenário de emissões líquidas zero da AIE, para estar em linha com Paris, nenhuma energia de carvão ou gás fóssil deve ser gerada até 2035 nas economias avançadas e globalmente até 2040.
O novo estudo mostra que não compensa mais ter o gás natural como intermediário da eliminação da geração elétrica a carvão. E mesmo com variações regionais importantes, isso é verdade para todos os grandes usuários de carvão pesquisados.
O estudo da TransitionZero inclui um projeto de dados abertos, intitulado Índice de Preço do Carvão para o Carbono Limpo (C3PI), que indica o preço do carbono necessário para saltar o gás fóssil e apoiar um sistema elétrico fornecido predominantemente por energias renováveis, especificamente, energia eólica onshore e fotovoltaica solar, mais armazenamento de baterias.
O índice leva em conta uma série de fatores que influenciam o resultado em cada geografia, incluindo interrupções na cadeia de fornecimento, geopolítica e regulamentações de mercado. A pesquisa destaca as questões de insegurança energética associadas ao carvão e ao gás fóssil, e afirma que as volatilidades percebidas agora provavelmente continuarão.
O custo da troca de carvão para renováveis no Brasil não foi analisado por esta pesquisa, já que o carvão tem papel residual na matriz elétrica brasileira. Apesar disso, as poucas usinas a carvão consomem cerca de R$ 1 bilhão em subsídios todos os anos, ajudando a encarecer as contas de luz.
Ao mesmo tempo, o Brasil é o terceiro país do mundo no investimento em infraestruturas de gás atualmente, segundo análise recente do Global Energy Monitor. Esses ativos podem sofrer frustração se os custos da energia renovável e das baterias mantiverem a tendência de queda.
“Apesar de algumas variações regionais, nossa análise mostra uma clara tendência deflacionária no custo de mudar da eletricidade do carvão para a eletricidade renovável e põe em questão os 615GW de gás e 442GW de carvão propostos e em construção globalmente”, afirma Matt Gray, co-fundador e analista da TransitionZero.
“Independentemente da invasão russa à Ucrânia, esta tendência se acelerará, apresentando aos governos uma oportunidade econômica para proteger os consumidores de eletricidade da contínua volatilidade dos combustíveis fósseis no exterior”, avalia Gray. “Para concretizar esta oportunidade, os formuladores de políticas precisarão fazer uma série de reformas, tais como a aceleração das licenças.”
A analista da TransitionZero, Jacqueline Tao, analisa as diferenças de oportunidade por região. “Na Europa, o preço da troca é negativo devido ao aumento dos preços do carbono das reformas políticas para o ETS (Sistema de transação de Emissões, o mercado de carbono europeu), décadas de apoio político para as energias renováveis e a invasão russa à Ucrânia, que resultou em um aumento acentuado do preço do carvão térmico”, avalia.
“O Japão, por outro lado, tem os preços mais altos de troca [de carvão para combustível limpo] devido a regulamentações discriminatórias e restrições ao uso do solo, enquanto que na China e nos EUA, apesar de serem líderes mundiais em energia renovável, os preços mais baixos do carvão nacional compensam parcialmente as vantagens de custo”, explica Tao. “Enquanto isso, no sudeste asiático, os custos são influenciados pela subsidiação do carvão e do gás, sendo a energia renovável uma indústria incipiente em comparação com outros países”.
“Nossa análise permite uma série de recomendações, mas para informar o mundo político, o fluxo transparente de dados é crítico entre as partes interessadas”, diz o cientista de dados Alex Truby, que também participou do estudo. “É por isso que criamos nosso Índice de Preços de Carvão para Carbono Limpo, que esperamos que seja uma ferramenta útil para aumentar a transparência e assegurar que sejam feitas reformas para alinhar a geração de eletricidade com os objetivos do Acordo de Paris”.
Confira o estudo, em inglês, da TransitionZero.
Fonte: Ciclo Vivo / Foto: Divulgação