Estudo revela que fungos têm um nível de cognição basal que é usado em surpreendente processo de tomada de decisões
Os fungos não param de surpreender a comunidade científica – e todas as pessoas que têm interesse no mundo natural. Cientistas descobriram que esses organismos têm uma capacidade impressionante de comunicação, podendo até usar “palavras” próprias. Eles formam uma rede subterrânea incrível e desempenham funções ecológicas importantíssimas: são responsáveis por armazenar um terço das emissões de carbono do planeta, ajudam a manter o equilíbrio entre diferentes espécies e têm propriedades medicinais.
Mas, um estudo mais recente, revela uma capacidade ainda desconhecida dos fungos. Mesmo sem cérebros, esses organismos mostram sinais de inteligência, com processos de tomada de decisões que foram descobertos por pesquisadores da Tohoku University.
Embora possa parecer ficção científica, esse nível de cognição basal está presente em fungos e foram eles que criaram as criaram formas das imagens abaixo:
“Você ficaria surpreso com o que os fungos são capazes de fazer”, disse Yu Fukasawa, da Universidade de Tohoku, à sua equipe de imprensa universitária . “Eles têm memórias, aprendem e podem tomar decisões. Francamente, as diferenças em como eles resolvem problemas em comparação aos humanos são alucinantes.”
Os fungos crescem liberando esporos, que podem germinar e formar longos fios subterrâneos semelhantes a aranhas, conhecidos como micélio. Normalmente, só vemos os pequenos cogumelos na superfície, sem perceber que há uma vasta rede de micélio interconectado abaixo deles. Micélios únicos foram encontrados crescendo em 900 hectares de solo — um organismo único que se estende por mais de 8 quilômetros.
É por meio dessa rede que as informações podem ser compartilhadas, de forma semelhante às conexões neurais no cérebro. O estudo atual examinou como uma rede micelial em decomposição de madeira respondeu a duas situações diferentes: blocos de madeira colocados em um círculo versus um arranjo em X.
Nessas condições, se os fungos não exibissem habilidades de tomada de decisão, eles simplesmente se espalhariam a partir de um ponto central sem consideração pela posição dos blocos – mas, não foi isso que os pesquisadores testemunharam.
Para o arranjo X, o grau de colonização micelial foi maior nos quatro blocos mais externos. Foi levantada a hipótese de que isso ocorreu porque os blocos mais externos podem servir como “postos avançados” para a rede micelial embarcar em expedições de forrageamento, portanto, conexões mais densas foram necessárias em comparação aos cinco blocos dentro do X.
No arranjo circular, o grau de colonização micelial era o mesmo em qualquer bloco dado. No entanto, todo o espaço vazio dentro do círculo permaneceu limpo. Foi proposto que a rede micelial não via benefício em se estender demais em uma área já bem povoada.
Essas descobertas sugerem que a rede micelial foi capaz de comunicar informações sobre seu entorno por toda a rede e mudar sua direção de crescimento de acordo com o formato.
Para evitar o desperdício de energia crescendo em direção ao centro do círculo, por exemplo, cada ponta micelial teria que ter alguma informação de que o centro do círculo era um local impróprio para o crescimento — o que só poderia ser obtido por meio de informações das células miceliais do outro lado do círculo.
“Esta pesquisa nos ajudará a entender melhor como os ecossistemas bióticos funcionam e como diferentes tipos de cognição evoluíram nos organismos”, explicam os cientistas.
Ainda há muito o que ser estudado em relação à inteligência própria e capacidade de decisão dos fungos, mas o certo é que a nossa compreensão sobre estes organismos ainda está só no começo, especialmente quando comparada ao nosso conhecimento de plantas e animais.
A cada nova descoberta, o fato de os fungos estarem em um reino de vida próprio se justifica mais. E, a cada descoberta, parece que este reino tem mais semelhança com o reino animal do que com o reino vegetal.
Via: Ciclo Vivo / Fotos: Yu Fukusawa