Material é feito de uma mistura entre concreto antigo e CO2; ideia é combinar conceitos de economia circular e neutralidade de carbono.
No Japão, sustentabilidade é um assunto sério. E que é prioridade de governos há muito tempo. Veja, por exemplo, esse documento oficial de 2012. Ele dá uma ideia do que estou falando.
Sim, existem várias cidades tecnológicas por lá, mas os japoneses se preocupam com a poluição moderna desde a década de 1960, após uma série de mortes relacionadas à água contaminada que era liberada das fábricas.
Por se tratar também de uma nação com pouco território (um arquipélago) e com recursos não tão abundantes, eles trabalham bastante com o conceito de alto aproveitamento. Juste isso à ideia de sustentabilidade e você vai ver o surgimento de boas – e ecológicas – iniciativas.
É o caso de um novo tipo de tijolo, que nasceu a partir de uma pesquisa da Universidade de Tóquio. O projeto teve início em 2021, mas saiu do papel somente agora.
Engenheiros se aproveitaram dos destroços de uma escola para levantar novas estruturas.
O que é o “tijolo verde”
Não, ele é não é literalmente verde – a cor está mais para o branco, ou um cinza claro.
O verde faz referência a algo mais ecológico.
O projeto da Universidade de Tóquio recebeu o nome de “Calcium Carbonate Circulation System for Construction”.
Ele nasceu para resolver dois problemas principais.
O primeiro é que a produção de concreto tem um enorme custo ambiental – principalmente por causa das altas temperaturas necessárias para aquecer o calcário.
E, segundo, porque as reservas de calcário em si são bastante limitadas no Japão.
Para transformar concreto antigo em novo, os cientistas adicionaram dióxido de carbono – CO2 retirado do ar ou de processos industriais.
Ou seja, a receita ficou ainda mais ecológica, pois retira carbono da atmosfera.
Na prática, eles moem os tijolos usados e o misturam com CO2.
Esse “pó carbonatado” é então pressurizado com uma solução de bicarbonato de cálcio e colocado em um molde antes de ser aquecido para formar um novo bloco de construção.
Esse processo todo demora cerca de 3 meses.
De acordo com os pesquisadores, o resultado é um tijolo “grande e forte o suficiente para construir casas e calçadas comuns”.
Um ciclo sustentável
O mais bacana de todo o projeto é que o novo material se torna reaproveitável.
Os próprios tijolos de concreto de carbonato de cálcio podem virar pó no final de sua vida útil; aí é só reiniciar o processo para criar novos blocos para novas construções.
É a solução ideal para um país como o Japão, segundo explica o professor Ippei Maruyama, um dos idealizadores da iniciativa.
“Estamos tentando desenvolver sistemas que possam contribuir para uma economia circular e neutralidade de carbono. No Japão, a demanda atual por material de construção é menor do que no passado, então é um bom momento para desenvolver um novo tipo de negócio de construção, ao mesmo tempo em que melhoramos nossa compreensão desse material vital por meio de nossa pesquisa”, afirmou o professor.
Os pesquisadores já levantaram pequenas estruturas com o novo material, que se mostrou confiável. O próximo passo é construir algo maior. Eles querem entregar agora um sobrado feito inteiramente desses tijolos verdes.
As informações são do New Atlas, Olhar Digital / Imagem: Divulgação/Universidade de Tóquio