Sayuri Miyamoto Magnabosco, 17 anos, teve a ideia durante um programa de incentivo à iniciação científica realizado em sua escola, em Curitiba
Certo dia, ao ver a mãe chegar do supermercado com as compras, Sayuri Miyamoto Magnabosco, de 17 anos, observou que muitos dos produtos adquiridos eram embalados com isopor, material que contribui com o acúmulo de resíduos nos lixões e aterros e demora de 100 a 300 anos para se decompor. Ao pensar nisso, a estudante do ensino médio em Curitiba pensou em uma solução: por que não produzir bandejas a partir do bagaço da cana-de-açúcar?
O talento da jovem somado a ajuda da mãe e dos professores fez com que a bandeja biodegradável saísse do papel. Um ano depois, tem até pedido de patente. E uma quantia invejável de prêmios para a garota cientista.
A ideia é simples, da maneira como deve ser um projeto científico no ensino médio, defende o professor Cornélio Schwambach, orientador de Sayuri. A cana ela conseguiu com um vendedor de caldo, perto de casa. Bateu no liquidificador de casa e misturou àquela cola branca caseira, que os mais antigos conhecem bem: farinha de trigo e água, fervidos no fogão.
A parte difícil foi secar no sol. É que o clima de Curitiba não ajudou muito (“alguns eu deixei para secar no forno”). Além de encontrar uma “solução básica” para misturar ao bagaço para impedir a fermentação. Esta é uma etapa importante, pois a bandeja não podia ser tão biodegradável a ponto de estragar enquanto o alimento ainda está próprio para consumo. “Pesquisei nos produtos de limpeza, vi o que era utilizado, e encontrei uma substância que não teria nenhum efeito tóxico sobre o bagaço”, explica ao jornal Gazeta do Povo.
Como conseguiu escolher um produto químico desses? Sayuri conta que foi com a ajuda da mãe, que é farmacêutica e “conhece bastante de substâncias”. Marina, a mãe, nega: “Que nada, ela fez tudo sozinha, é superautodidata”.
Algo simples
Marina, a farmacêutica, ajudou “como mãe, mesmo”. “O liquidificador eu dei para ela, porque teve uma experiência em que colocou óleo e canela, e aí, claro que estragou. Na hora de moldar as bandejas eu dizia para ela fazer bem caprichado, porque ia apresentar na feira.”
Ela também orientou a filha na escolha do objeto de pesquisa: “Falei para ela fazer algo que não precisa cavar todo o quintal de casa, e sim algo mais simples”.
Iniciação científica
O que separa um aluno do ensino médio de desenvolver tecnologia e produzir novos conhecimentos por conta própria? Um “empurrãozinho”, talvez.
O Colégio Bom Jesus criou em 2011 o programa de Iniciação Científica (IC) para o ensino médio. É uma forma de canalizar a criatividade dos adolescentes em prol da ciência.
“O que nós fazemos é formatá-los para o trabalho científico, colocar objeto de pesquisa, justificativa, essas coisas”, conta o professor Schwambach, coordenador da IC na unidade Centro, do colégio. O programa começou com um grupo seleto, e hoje é aberto a todos os alunos interessados.
Sayuri é da segunda geração de orientandos. Sua coleção de medalhas inclui passagens pelas feiras de ciências da Usina de Itaipu, da Universidade de São Paulo (USP) – a maior do país–e da chamada Olimpíada dos Gênios, realizada em Nova York.
*Texto original publicado por EcoDesenvolvimento.
Fonte: EcoDesenvolvimento / Fotos: Reprodução / Aniele Nascimento/Gazeta do Povo