O tijolo ecológico é uma ótima solução para construções que têm apelo sustentável. Fabricado com água, cimento e terra (solo), ele é assim chamado por provocar menos impactos ao meio ambiente do que o tradicional. A começar pelo processo de fabricação, por prensagem, que não emite gases poluentes. Além disso, em sua composição pode haver resíduos de construção, de demolição e da agroindústria, como fibras de coco ou bagaço de cana. Tudo isso com bom desempenho e durabilidade.
Podem ser encontrados no mercado tijolos dos mais variados tipos: tijolo de cimento por encaixe sem argamassa, de solo-cimento e argamassa com sistema de encaixe, com cola PVA e argamassa polimérica, com raspas de pneu, com resíduos siderúrgicos etc.
Contudo, o professor Sérgio Cirelli Ângulo, especialista do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), alerta para a prática chamada de greenwashing. “São campanhas de marketing ambiental que não cumprem o que prometem, por exemplo, quanto à durabilidade. Se o produto tiver de ser substituído várias vezes, os impactos ambientais aumentam. Por isso é importante fazer um inventário do ciclo de vida desses produtos para ter certeza de seus benefícios”, ele explica.
Os tijolos de solo-cimento são normatizados pela ABNT. Na especificação do produto, deve-se solicitar ao fornecedor laudos técnicos que comprovem que o produto segue as normas técnicas, especialmente os parâmetros determinados pela NBR 8492:2012 (Tijolo de solo-cimento – Análise dimensional, determinação da resistência à compressão e da absorção de água – Método de ensaio).
Usar ou não usar, eis a questão
O mais importante na hora de especificar é consultar as informações técnicas e ambientais no catálogo do fabricante, checar se o produto respeita as normas vigentes – que regulamentam e estabelecem critérios mínimos (como a NBR 15575, da ABNT) –, se há um estudo sobre o ciclo de vida do produto e se ele passou por ensaios padronizados validados pelo Sinat (Sistema Nacional de Aprovações Técnicas). Esses ensaios devem avaliar a estanqueidade, o desempenho termoacústico, o grau de toxicidade e o comportamento em relação a incêndios.
Ângulo destaca, ainda, a importância de se atentar para as condições de modularidade do tijolo. “A falta de modulação pode causar quebras e, consequentemente, desperdício de materiais”, aponta o professor da USP, que recomenda pesar os prós e contras na hora de avaliar se vale a pena usar o tijolo ecológico. “O produto pode oferecer benefícios ambientais, mas apresentar desempenho técnico reduzido, por exemplo. Então, a avaliação de ecoeficiência é valiosa E, se os pontos positivos forem superiores aos negativos, pode valer a pena.”
Além disso, de acordo com o docente, dependendo do fabricante, um bloco de concreto (que não contém solo ou areia) pode provocar menos impactos ambientais do que um bloco cerâmico e até do que um tijolo de solo-cimento.
Cuidados na execução do tijolo ecológico
Os tijolos ecológicos podem ter ou não função estrutural. No caso dos que têm essa função, é preciso certificar-se de que os resíduos adicionados não afetarão a resistência mecânica, a resistência à fadiga, a elasticidade, o desempenho termoacústico etc.
Na execução, é preciso tomar cuidado com o uso de resinas recicladas para vedação de juntas, pois estas podem conter compostos orgânicos voláteis e, assim, causar problemas de saúde aos profissionais. Neste caso, o produto deve ter análise da FISP (Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico), fornecida pelo fabricante. Esse documento é obrigatório por ser o Brasil signatário do GHS (Globally Harmonized System of Classification and Labelling of Chemicals).
O projeto de alvenaria também deve considerar que o tijolo ecológico é uma solução construtiva modular. Logo, é preciso conhecer as dimensões do produto a ser empregado, pois estas serão utilizadas no cálculo das medidas das paredes. Aonde também deve-se tomar cuidado com os efeitos de retração e dilatação sofridos pelos blocos conforme variações climáticas, prevendo-se pelo menos uma folga de 1 mm a 1,5 mm para evitar formação de trincas e fissuras.
Qual revestimento aplicar?
Quem não quer deixar os tijolos aparentes, pode aplicar qualquer tipo de revestimento, entre os quais gesso, cerâmica e pintura, dentro das condições de aplicação especificadas pelas normas técnicas de revestimentos. No entanto, Ângulo alerta que, quando há incorporação de resíduos ao produto, pode haver incompatibilidade entre superfícies. “Num tijolo de polímero reciclado – que não molha facilmente – a aderência do revestimento ao material é dificultada, o que afeta a durabilidade do sistema”, ele exemplifica. “Por isso, é importante analisar a avaliação de desempenho do sistema de vedação/revestimento, feita com base na NBR 15.575, da ABNT”, finaliza.
Fonte: Mapa da Obra / Foto: Divulgação / Anmbph / Shutterstock