Pesquisa da Escola Médica de Harvard mostra que o consumo de uma laranja por dia pode reduzir chances de depressão em até 20%
O intestino é o nosso segundo cérebro. Essa frase é famosa entre as pessoas que estudam medicina chinesa, mas faz sentido também para a medicina ocidental. Isso porque o órgão abriga milhares de microrganismos e terminações nervosas, cuja relação tem efeito direto no nosso cérebro e nas nossas emoções. Comer laranjas, por exemplo, pode reduzir em até 20% a chance de desenvolver depressão, de acordo com um estudo científico publicado recentemente.
A depressão clínica afeta centenas de milhões de pessoas no mundo todo, e o tratamento com medicamentos é lento e seus efeitos variam de pessoa para pessoa. Com causas variadas e uma solução complexa, a doença é bastante estudada e, em alguns casos, alguns hábitos simples podem auxiliar na prevenção ou apoiar o tratamento. A prática de exercícios físicos e a ingestão de frutas cítricas são um exemplo disso.
A descoberta veio com um estudo conduzido pelo Dr. Raaj Mehta, instrutor de medicina na Escola Médica de Harvard e médico no Hospital Geral de Massachusetts. Ele encontrou evidências de que comer apenas uma laranja de tamanho médio por dia pode reduzir o risco de uma pessoa desenvolver depressão em 20%.
“Eu estava trabalhando em um pós-doutorado e pesquisando a literatura sobre depressão, procurando um projeto interessante para assumir”, explicou o Dr. Mehta ao Harvard Gazette. “Um estudante encontrou este artigo de 2016 que apontava para a possibilidade de que os cítricos diminuam o risco de depressão.”
“Isso despertou nosso interesse porque tínhamos acesso a um rico conjunto de dados que poderíamos usar para acompanhar essa descoberta. É chamado Nurses’ Health Study II (NHS2), uma pesquisa feita com enfermeiras que começou em 1989 com o objetivo de encontrar fatores de risco para as principais doenças crônicas em mulheres.”
O projeto é bastante amplo, com a participação de cerca de 100 mil mulheres que a cada dois anos elas fornecem aos pesquisadores informações detalhadas sobre seu estilo de vida, dieta, uso de medicamentos e saúde. “Então decidimos alavancar esses dados para procurar evidências de que as enfermeiras que comiam muitas frutas cítricas tinham taxas mais baixas de depressão futura do que aquelas que não comiam. E essa hipótese se confirmou!”, conta o Dr. Raaj.
As descobertas do Dr. Mehta não encontraram uma relação direta entre a depressão e o consumo total de frutas e vegetais. Mas, as frutas cítricas se destacaram nessa avaliação como um fator decisivo. Para confirmar essa hipótese, a equipe aumentou as quantidades totais de uma espécie bacteriana intestinal F. prausnitzii., a mesma que foi naturalmente aumentada pelo consumo de laranja pelas enfermeiras.
Além disso, como o NHS2 continha apenas mulheres, ele procurou os mesmos parâmetros e micróbios intestinais em homens, e os resultados permaneceram: 20% menos risco de depressão, com níveis mais altos de F. prausnitzii.
Quando questionado sobre como esses dados poderiam funcionar para reduzir a depressão, o Dr. Mehta sugeriu que a via do ciclo I da S-adenosil-L-metionina pode ser utilizada por essas bactérias como uma forma de influenciar os neurotransmissores humanos dopamina e serotonina, produzidos por células humanas no intestino.
“Há tantas evidências agora sugerindo uma forte ligação entre o intestino e o cérebro que não fiquei surpreso em encontrar mais”, conta Dr. Raaj. “Ao mesmo tempo, eu não tinha associado cítricos com o cérebro antes de obtermos esses resultados.”
O próximo passo é avaliar se outras frutas cítricas, como a bergamota, o limão ou limas produzem o mesmo efeito, aumentando a quantidade de bactérias F. prausnitzii e influenciando os neurotransmissores humanos dopamina e serotonina. De qualquer maneira, consumir uma laranja por dia pode trazer outros benefícios, já que a fruta é rica em nutrientes, como a vitamina C, e fibras. Uma boa dica para quem quer manter a saúde do corpo e da mente.
Com informações de The Harvard Gazette